David Miranda e a Doença do Exclusivismo

Ontem (7 de junho de 2009), a Igreja Pentecostal Deus é Amor comemorou o seu
aniversário de 47 anos. Segundo a sua famosa “Diretoria Administrativa”, fiéis de todo o Brasil e também do exterior, fizeram caravanas para estarem presentes na celebração, que ocorreu no “Templo da Glória de Deus”, no centro da capital paulista.
Primeiramente, parabenizamos a denominação, nas pessoas do seu líder-fundador,
Missionário David Miranda, de seu corpo ministerial e administrativo e, é claro de seus membros, e desejamos a todos eles crescimento, tanto material, quanto espiritual, provenientes das bênçãos e da orientação do Espírito Santo de Deus sobre eles.
Estive em casa neste dia, bem distante do local de comemoração, mas acompanhei as
festividades através do programa de rádio “A Voz da libertação”, que comemorava os mesmos 47 anos da igreja. Num dado momento, após uma apresentação musical, David Miranda, seguido do peculiar tradutor simultâneo para espanhol que o acompanha, fez uma oração pela igreja.
Não haveria nada de mais nesta oração, ela poderia simplesmente “fechar com chave
de ouro” toda a cerimônia que se realizara ali, não fosse uma preocupante frase dita pelo Missionário. Já no final da oração, David Miranda disse mais ou menos o seguinte: ”Ouvinte, a igreja evangélica que tem perto da sua casa, se não é a Deus é Amor, não tem a doutrina perfeita de Jesus Cristo, porque a doutrina perfeita de Jesus, você só vai encontrar nas igrejas Deus é amor”.
Não obstante todas as verdadeiras excentricidades ensinadas por esta igreja, tais como proibição de uso de roupas jeans e botas para as mulheres, ela desfruta de uma relativa respeitabilidade no meio evangélico, quase não sofrendo críticas no que se refere às suas doutrinas.
Todavia, é triste constatar que, apesar de suas qualidades, a Igreja Pentecostal Deus é Amor, ao praticar uma verdadeira distorção do Cristianismo, que é o exclusivismo, imita seitas como As Testemunhas de Jeová, o Mormonismo e outras.
Não é preciso ser um teólogo para deduzir que, quando o Missionário afirma que “a
doutrina perfeita de Jesus você só vai encontrar nas igrejas Deus é amor”, está praticando o odioso e anti-bíblico exclusivismo. Consequentemente, ele arroga para sua própria igreja o monopólio da salvação. É extremamente lamentável que uma denominação evangélica tida com séria, marque o seu aniversário de quase 50 anos, com a defesa de algo que é tão característico de seitas, como as mencionadas acima.
Temos na pessoa do fundador da nossa religião, Jesus Cristo, o exemplo de como deve
ser a nossa postura em relação àqueles que crêem no seu nome mas não fazem parte do nosso próprio grupo religioso. Esta lição está expressa no Evangelho segundo Marcos, capítulo 9, versículos 38 ao 40. Leia e refilta:
Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que expulsava demônios em teu nome; e nós o proibimos, pois ele não nos seguia.Jesus, porém, respondeu: Não o proibais. Ninguém há que realize um milagre em meu nome e possa logo depois falar mal de mim, pois quem não é contra nós, é por nós”.
Vemos nesta passagem, que o excesso de zelo dos discípulos quis levá-los ao
exclusivismo: só poderiam usufruir do poder de Deus (no caso, expulsar demônios), aqueles que seguissem formalmente a Jesus, juntamente com eles. Provavelmente, João julgou que agindo assim, estaria agradando ao Mestre, sendo ainda mais fiél a Ele.
Mas, a reação de Jesus provavelmente o desampontou: “Não o proibais”. Ele estava mais interessado em pessoas que o seguissem em espírito, do que fisicamente, em carne. Em seguidores que entendessem os fundamentos da sua mensagem e os colocassem em prática, do que em meros expectadores das suas pregações. E, para seguir a Jesus em espírito e em verdade, tanto faz o grupo religioso ou igreja da qual você faz parte.
A mesma lição serve para os líderes religiosos dos nossos dias. Com excessão das
seitas, o Jesus pregado nesta ou naquela denominação é exatamente o mesmo: o Filho de
Deus que veio como homem, deu a sua vida por resgate da nossa e é o único meio de o ser humano conhecer a Deus. Diferenças não-essenciais para a salvação, tais como formas litúrgicas, usos e costumes e outras, não podem servir de argumentação para se impedir que alguém sirva a Deus em uma outra igreja que não seja a nossa pois, segundo o Mestre, “quem não é contra nós, é por nós”. Todos aqueles que aceitam a Jesus Cristo como seu único e suficiente salvador, e a Bíblia Sagrada como sendo a infalível Palavra de Deus, são “por nós”, ou seja, a favor do reino de Deus e da Sua Justiça.
Entretanto, seria ingênuo, ou mesmo intelectualmente desonesto da nossa parte, se
ignorássemos aqui a hipótese de esse exclusivismo da Deus é Amor não ter uma raiz realmente doutrinária, mas sim de cunho prático, servindo como instrumento de manipulação dos fiéis e futuros membros, para que os mesmos dêem os seus dízimos e “façam seus votos” (como é comum ali) para a própria igreja e não para qualquer outra.
Tanto pior, pois nesse caso (que é apenas uma hipótese), estaria caracterizada uma
distorção bíblica por motivo de torpe ganância. E, na nossa opinião, existem poucos pecados tão abomináveis quanto ludibriar as pessoas em nome de Jesus. Ainda mais, se for por interesse financeiro.
Seja por ignorância bíblica, seja por motivações desonestas, o exclusivismo,
justamente por geralmente vir sob o disfarce de “zelo” e de “busca de santidade”, é um mal que seduz a muitos cristãos, e que pode corromper a denominações evangélicas inteiras, como, aparentemente, está ocorrendo com a Igreja Pentecostal Deus é Amor.
Terminamos este artigo com a frase do teólogo luterano Peter Meiderlin: “No
essencial, unidade, nas diferenças, liberdade e, em ambas as coisas, o amor”.